"Em vez de balas" - Casa da Cultura de Sacavém
(Quinta do Mocho)
29 de Setembro 2018
Projecção de fotografias feitas na Guiné - 1968 e 2018
Projecção de fotografias feitas na Guiné - 1968 e 2018
Em vez de balas
No dia 1 de Maio de 1968,
larguei do Tejo, rumo à Guiné, a bordo da fragata Corte Real. Era então um
jovem tenente dos fuzileiros, com 22 anos, recém casado, que interrompera os
estudos de Economia na Universidade de Lisboa.
Em Bissau integrei a 6ª
Companhia, aquartelada no INAB, junto ao Geba.
A nossa missão consistia
essencialmente na escolta de combóios de embarcações que levavam abastecimento
aos quartéis do Exército.
Subi e desci os principais
rios da Guiné comandando, conforme os casos, uma ou duas lanchas de desembarque
médias (LDMs). Em ocasiões apoiado por lanchas de fiscalização pequenas (LFPs).
Naveguei no Cacheu até
Farim, no Mansoa, no Geba e no Rio Grande de Buba.
Liguei por mar a foz desses
grandes rios e também fui a Bolama e a Bubaque.
A guerra era uma realidade
penosa para quem como eu, jovem militante comunista, se opunha ao domínio
colonial e defendia a independência das colónias. Partilhei esse drama pessoal
com a minha mulher, Maria Rosa, que trabalhou como professora de História no
Liceu Honório Barreto.
A fotografia constituiu para
mim um paliativo. Ao fotografar a dignidade do povo guineense, a beleza das
suas mulheres, o porte dos seus homens e o encanto das suas crianças, eu tinha
a impressão de estar a fazer um gesto de amizade no contexto da guerra. A disparar
fotografias em vez de balas.
É significativo que pouco
tenha fotografado da guerra e dos temas militares.
2018 é o cinquentenário da
minha chegada a Bissau.
Sinto-me na obrigação de
comemorar essa fase tão marcante da minha vida de jovem adulto. Tal como os
outros jovens da minha geração aprendi, "no terreno", a grande lição
da relatividade da nossa própria cultura.
Visitei de novo a Guiné, em
Fevereiro 2018, e percorri os locais por onde passara, e fotografara, há 50
anos. E voltei a fotografar lá com a mesma câmara que então usei.
Foi realizada uma exposição das
minhas fotografias, feitas em 1968/69, que teve lugar no Centro Cultural Português
de Bissau.
Uma espécie de tributo, para
restituição da memória de uma realidade que em grande medida já não existe.
Fechou-se então o ciclo.
Como experiência pessoal é uma grande emoção.
Num plano mais geral creio
que propiciará reflexões sobre a guerra colonial e sobre a forma como a viam tantos jovens que politicamente
a contestavam.
Fernando Penim Redondo
(fjprgm@gmail.com - 912421586)
Quinta do Mocho, 29 de
Setembro de 2018
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